Criação e interpretação:
Raquel André & Tiago Cadete
Figurinos: 
Raquel André &Tiago Cadete com colaboração de Carlota Lagido
Consultadoria: 
Bel Garcia, Francisco Camacho
Fotografia: 
Tiago Brás 
Co-produção:
Teatro Municipal de Almada; EIRA; Cia dos Atores; Molloy 
Residência Artística :
Cia dos Atores – Rio de Janeiro; EIRA33 – Lisboa 
Projecto financiado : 
Fundação Calouste Gulbenkian - Artes Performativas



02/03/2012-30/03/2012 
residência
Rio de Janeiro (BR) CIA Actores

30/03/2012 
ante estreia
Rio de Janeiro (BR) CIA Actores

02/04/2012-26/04/2012 
residência
Lisboa (PT) espaço eira 33 

28/04/2012 

estreia absoluta
Almada (PT) Teatro Municipal de Almada

05,06,07/04/2013 
reposição
Rio de Janeiro- Teatro Sergio Porto (BR)
LAST é o último movimento antes da fama/morte começar, a partir do coleccionismo The Last Words of Notable People. Raquel e Tiago dirigem uma ficção plástica do que resta, criando formas que eternizam a fama/morte, como uma possibilidade à nossa memória. 


Black Dahlias, 
João Manuel de Oliveira 

Ao rever o vídeo de Last, para escrever este texto, ocorreu-me a figura da “Black Dahlia”, uma jovem assassinada em Los Angeles em 1947. Elizabeth Short, facilmente se adivinha, seria outra de muitas, em busca da fama e da celebridade, dispostas a experienciar alguns dos custos que a indústria de Hollywood cobrava às jovens atrizes em particular. Short acaba por se tornar notória quando aparece morta, esquartejada, cortada aos pedaços, o sangue drenado, com um sorriso falso, rasgado por um objecto cortante. Um preço demasiado caro, mas que lhe garante a fama. A “Black Dahlia” postumamente célebre e não por nenhum feito particular na sua vida, mas simplesmente pelo mistério e crueldade em torno da sua morte e de todo o circo mediático em torno dela. Repara-se que fica contudo contida num nome que não é o dela, mas antes reflecte os contornos da sua morte. Aprisionada numa celebridade póstuma, atinge de uma forma paradoxal esse desejo de estrelato, uma estrela para jornalistas ávidos de um scoop e outros coleccionadores de memorabilia macabra. Ou para toda uma cultura ocidental ávida e a querer excitar-se com o misto de sangue, celebridade e morte? Talvez tenha sido aí que começámos a apercebermos do quanto as necrologias e os seus efeitos, o fetiche da destruição e morte dos outros, nos interessam. Ligue-se a televisão e veja-se quantas séries de assassínios, mortes, vítimas, detectives temos ao nosso dispôr. Um voyeurismo de Thanatos. Voraz, persistente e imparável. Necrológico. Last, tem uma relação com as Black Dahlias do mundo, pretende construir uma reflexão entre morte e celebridade, entre acidente e os holofotes. Esse lado é explorado pela dupla Tiago Cadete e Raquel André, por forma a testemunhar ou até mesmo a assumir, esse culto dark de uma celebridade póstuma, de que Black Dahlia é um exemplo, e que ilustra o carácter vampiresco destas relações simbólicas entre celebridade/fama, acidente, morte. A peça desvela algumas possibilidades de leitura, falsear, mudar, transmutar, mostrando diferentes apropriações que Tiago Cadete e Raquel André fazem deste tema. Os performers em palco apresentam igualmente variadas maneiras de lidar com esta relação, desde a desistência à celebração, com várias maneiras de enquadrar esta pergunta. Esta peça traduz também uma tentativa de produzir práticas artísticas a partir de um tema e tentar enunciá-lo até ao esgotar ou saturar. Os criadores, em vez de tentarem solucionar a questão de partida, optam por produzir um enunciado artístico onde exploram os múltiplos sentidos desta relação. Marcados igualmente pela relação que mantêm ambos com o Brasil, esta peça recorre marcas culturais brasileiras para analisar esta relação intrincada. Assim, partem a reler e repensar esta relação que as indústrias culturais massificadas produziram com o culto das mortes e dos acidentes de celebridades, James Dean despedaçado, Jayne Mansfield decapitada, que não o foi mas assim permanece no nosso imaginário necrológico. Crash, a alta velocidade, mostrando o quanto ainda nos excitamos com a modernidade e os seus orgasmos rápidos e fáceis, carros destruído, auto-estradas que só servem para testar os nossos limites, corpos desfeitos e esmagados que no entanto nos alimentam uma vida erótica secreta mas partilhada pelos media, estrelas de cinema prisioneiras dessa modernidade voraz que post-mortem lhes garante uma outra fama. Black Dahlias, com sorrisos ensanguentados, rasgados por uma faca.